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Aprender a aprender

Entrevista publicada em 1.11.22

 

A educação corporativa é propulsora da aprendizagem permanente, contínua. Aprender é um verbo presente em toda a nossa vida pessoal e profissional. A relações públicas Giana Pontalti, da Assessoria de Comunicação da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Ascom/Cogepe), conversou com Ana Paula Mendonça, coordenadora de soluções educacionais da Escola Corporativa Fiocruz (EC) para entender como funciona a área de soluções educacionais e o que ela oferece aos trabalhadores da Fiocruz que participam dos Programas de Desenvolvimento de Pessoas. Confira!

 

Ascom: A educação corporativa atua no desenvolvimento de pessoas, motivando a aquisição de competências para que a instituição consiga atingir seus objetivos estratégicos. A EC conta com uma área de soluções educacionais. O que são soluções educacionais?  

Ana Paula: Quando eu cheguei à Escola, em 2020, implementamos a área de soluções educacionais, prevista no projeto inicial da EC. Já havia uma designer instrucional na equipe. O designer instrucional é o profissional que desenha experiências de aprendizagem. Esta área planeja e oferta soluções para a aprendizagem.  

Soluções educacionais são um conjunto de metodologias, estratégias e iniciativas que já existem ou são compostas para atingir um determinado objetivo de aprendizagem. No caso da Escola Corporativa, buscamos fazer com que as pessoas desenvolvam competências. Para isso, temos um leque de opções para propor uma solução, levando em consideração a necessidade de aprendizado, o contexto e o público-alvo. É importante lembrar que uma solução, à medida que é aplicada, pode ser melhorada ou adaptada. 

Soluções educacionais são um conjunto de metodologias, estratégias e iniciativas que já existem ou são compostas para atingir um determinado objetivo de aprendizagem. No caso da Escola Corporativa, buscamos fazer com que as pessoas desenvolvam competências. Para isso, temos um leque de opções para propor uma solução, levando em consideração a necessidade de aprendizado, o contexto e o público-alvo. Ana Paula

Ascom: A área de soluções educacionais pode nos ajudar a entender a diferença de treinamento e de ações de desenvolvimento? 

Ana Paula: Quando comecei a trabalhar na Escola Corporativa, não conhecia a educação corporativa, pois antes trabalhava com cursos de treinamento. Fiz, então, um curso de atualização em educação corporativa na FIA, Fundação Instituto de Administração. Aí é que fui entender que a educação corporativa está ligada aos objetivos estratégicos, institucionais, entendi o conceito de competência e a diferença entre treinamento e desenvolvimento. 

Treinamento é algo pontual, é algo para resolver um problema do seu dia a dia no trabalho. Desenvolvimento é algo mais contínuo. E isso é superimportante para o nosso público porque as pessoas ficam na Fiocruz por muitos anos. O que você quer para aquele profissional daqui um tempo? Esse conceito do desenvolvimento é essencial para o serviço público, o que não desqualifica o treinamento.  

Treinamento é algo pontual, é algo para resolver um problema do seu dia a dia no trabalho. Desenvolvimento é algo mais contínuo. E isso é superimportante para o nosso público porque as pessoas ficam na Fiocruz por muitos anos. O que você quer para aquele profissional daqui um tempo? Esse conceito do desenvolvimento é essencial para o serviço público, o que não desqualifica o treinamento. Ana Paula

Ascom: Apesar de ser analista de sistemas, você já tinha uma trajetória na educação.  

Ana Paula: Sim, trabalho com educação a distância desde 1998, quando a EAD na Fiocruz começou, com o objetivo de formar e qualificar profissionais que atuam na saúde e áreas afins. Quando ingressei na área da educação, comecei a participar de redes educacionais internacionais como a Rede do Campus Virtual de Saúde Pública da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que também visava à formação de recursos humanos em saúde. A OPAS é bastante focada no autodesenvolvimento. Quando a Fiocruz fez a parceria com a OPAS, trouxemos a proposta da EAD autoinstrucional. Até então, só havia cursos com tutoria na Fiocruz. Introduzimos o software livre Moodle e trouxemos o modelo tecnológico que é o do Campus Virtual, e que a Escola usa também.  

Trouxe para a Escola os conhecimentos dos cursos EAD, do desenvolvimento do modelo tecnológico e do formato de cursos autoinstrucionais abertos e massivos. O autoinstrucional vai ao encontro do autodesenvolvimento. 

Integrar-se ao Campus Virtual Fiocruz trouxe uma série de vantagens para a Escola. A entrada dos cursos é feita pelo Campus Virtual Fiocruz. Logo, estamos integrados à rede de conhecimento e aprendizagem que está alinhada à Política de Acesso Aberto e dos Recursos Educacionais Abertos da Fiocruz. Além da integração, economizamos, pois a Escola não precisou desenvolver plataforma tecnológica própria. 

Ascom: Quando falamos em educação corporativa, falamos na educação de adultos. Como nós adultos aprendemos?  

Ana Paula: Nós aprendemos o tempo todo e podemos aprender de forma autônoma e colaborativa. Antigamente, falávamos em uma pessoa autodidata. Ser autodidata era uma competência e isso foi um pouco resgatado nos dias de hoje. Mas nem todo mundo tem a competência de ser autodidata, é uma competência que precisa ser desenvolvida, semelhante ao que ocorre com o letramento digital. As pessoas precisam aprender por meio da busca e pesquisa, organizando seu tempo de acordo com seus objetivos, precisam aprender a aprender.   

Um dos fundadores da Escola do Futuro, José Moran¹, diz que as pessoas precisam ter projetos de vida – pessoal e profissional. Dentro desse projeto de vida, você vai decidir no que se profissionalizar, no que buscar e aprender.  

Penso que a Escola Corporativa pode incentivar o protagonismo do trabalhador para que ele decida o que aprender, para que ele relacione sua aprendizagem com o seu projeto de vida, “case” a aprendizagem com seu objetivo pessoal, profissional e institucional e com a prática diária. É um grande desafio!  

¹ Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo, professor de Novas Tecnologias na USP (aposentado).  

Ascom: Estima-se que 1 bilhão de pessoas terão de ser capacitadas para exercer novas funções de trabalho nas próximas décadas, pois muitas funções deixarão de existir, serão substituídas ou ressignificadas. Como definir o que precisamos aprender frente a tantos novos saberes e a tantas ofertas de cursos e graduações? 

Ana Paula: Acredito que a inteligência artificial pode ajudar nisso. Ela é muito utilizada mercadologicamente, nas relações comerciais, e na educação está ficando para trás. Imagina se utilizássemos os dados das pessoas, identificando os seus interesses para poder desenhar soluções educacionais. O que as pessoas querem e precisam aprender? Às vezes não sabemos. A inteligência artificial pode nos dar essas pistas, ser benéfica nesse sentido.  

Cursei uma disciplina de Ciência de Dados, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), para entender melhor isso.  

Ascom: No auge da pandemia do novo coronavírus, muita gente entrou nas redes sociais, em plataformas de cursos, ingressando, de fato, no universo digital. Nós ficamos mais receptivos aos cursos remotos, às formações à distância? 

Ana Paula: Com certeza, a nossa relação com o digital e com o aprendizado mudou para sempre. Mas precisamos aprender a extrair o melhor disso. Existem, por exemplo, cursos autoinstrucionais. Eles funcionam muito bem para algumas coisas, para outras, não. Os cursos remotos funcionam para algumas pessoas, mas não funcionam para outras. Às vezes, em um curso remoto, a pessoa liga o computador e sai, não está estudando, não está presente.  

A Escola Corporativa tem o desafio de desenvolver a habilidade de entender qual é a melhor solução para cada tipo de público, considerando o seu contexto. Como vamos saber o que é mais efetivo? Ouvindo os participantes e analisando dados. 

Ascom: Estamos em meio à quarta Revolução Industrial. No que as novas tecnologias impactaram na nossa forma de aprender e na oferta de soluções educacionais? 

Ana Paula: Hoje em dia, o problema está na quantidade de conteúdos e ferramentas disponíveis. Tem muita coisa!  

O percurso de aprendizagem, por exemplo, oferece ao participante conteúdos e ferramentas com uma curadoria de qualidade.  O participante sabe que vai encontrar neles algo de útil para o desenvolvimento de competências. Então, de acordo com as suas necessidades, vai fazer o que lhe cabe. Não devemos obrigar uma pessoa a fazer um curso introdutório se ela já conhece o tema. Ela pode ingressar diretamente no curso mais aprofundado.  

O mundo está muito dinâmico, temos que aproveitar mais o que está disponível e olhar para o que atrai a atenção das pessoas: os produtos mais curtos, mais rápidos, e informações que ajudarão a resolver problemas no trabalho, pois todo mundo está ocupado, superlotado de demandas. Ana Paula

O mundo está muito dinâmico, temos que aproveitar mais o que está disponível e olhar para o que atrai a atenção das pessoas: os produtos mais curtos, mais rápidos, e informações que ajudarão a resolver problemas no trabalho, pois todo mundo está ocupado, superlotado de demandas.  Temos de oferecer soluções mais personalizadas, assertivas, móveis, acessíveis em qualquer lugar e momento. Esse mundo virtual tem que vir. Estamos longe, mas tem que vir. Falo das realidades virtuais. Mas é importante lembrar que nada substitui o contato presencial de estudantes e instrutores. A tecnologia deve ser utilizada sempre para potencializar o processo, possibilitando soluções híbridas. 
 
Ascom: Que profissionais contribuem com a área de soluções educacionais da Escola Corporativa? 

Ana Paula: Somos quatro profissionais, que entendem de design instrucional, tecnologia educacional e design. Eu atuo na coordenação. A Isabel Lourenço vem atuando no design instrucional, o Mário Martins trabalha com design gráfico e a Hilde Pontes na tecnologia educacional. Nós todos interagimos com os profissionais responsáveis pelos Programas de Desenvolvimento, que conhecem as áreas demandantes, as necessidades delas e o público-alvo.  

Ascom: Que produtos a área de soluções educacionais gera, entrega?  

Ana Paula: Nós entregamos algumas soluções educacionais, desenvolvidas em parceria com as demais áreas da Escola Corporativa. Vou citar, aqui, as principais. Tem as comunidades virtuais de aprendizagem, que atualmente são repositórios de conteúdo para os participantes dos Programas de Desenvolvimento. As comunidades estão sendo reformuladas, vão ganhar novos layouts e estratégias para incentivar a interação. Tudo que for do Programa será encontrado na comunidade, de forma ágil. A comunidade pretende ser, também, um ambiente de conexão entre os participantes de um mesmo Programa. 

Desenvolvemos, também, os recursos tecnológicos para os percursos de aprendizagem. O percurso é um espaço de desenvolvimento e autodesenvolvimento em que o profissional vai encontrar conteúdos úteis para o desenvolvimento de uma competência específica. O Percurso é o espaço da curadoria, pois lá são encontrados conteúdos em diversos formatos e indicação de cursos já selecionados para os participantes, alinhados à competência a ser desenvolvida e à realidade institucional.   

O Percurso de Aprendizagem Comunicação, por exemplo, foi desenvolvido para os participantes do Programa de Desenvolvimento Gerencial. Ele tem como tema a comunicação, identificada como crítica para a gestão de pessoas, uma competência mapeada para o PDG. É composto por três jornadas com uma série de cursos, quizzes, vídeos e atividades que podem ser feitas de acordo com a disponibilidade e interesse de cada aprendiz.  

Os cursos  EAD também são produtos da área de soluções educacionais. Temos investido e vamos investir cada vez mais nos microcursos, que são cursos mais breves. Tem o curso aberto massivo online (MOOC), que é um formato de curso totalmente autoinstrucional, aberto para todos os trabalhadores. E tem as séries de formação modular, uma série de vários temas em que a pessoa pode fazer qual quiser. Os recursos educacionais abertos (REA) também são produtos. Todos estão sendo disponibilizados no repositório Educare para download. 

Ascom: No que a área de soluções educacionais inovou neste ano?  

Ana Paula: Trouxemos a gamificação para os ambientes virtuais dos cursos. Lançamos o chatbot no Percurso Comunicação, como piloto. Ele foi desenvolvido em parceria com o Icict, projeto “O Chatbot como ferramenta de gestão e informação  sobre ensino na Fiocruz”, do edital Inova Gestão. 

O chatbot é um assistente virtual que dá suporte rápido ao participante. Vai sendo aprimorado constantemente, dando respostas cada vez mais assertivas aos usuários.  

Também entregamos os primeiros microcursos EAD sobre Integridade de Dados, são cursos curtos, baseado em videoaulas, desenhado  para o Programa de Desenvolvimento de Pessoas do Sistema da Qualidade. O formato foi muito bem aceito pelos trabalhadores. 

Reformulamos o ambiente dos Percursos de Transformação Digital e lançamos novos percursos dentro da competência “transformação digital”. Esses percursos foram desenhados para o Programa de Desenvolvimento de Pessoas do Sistema Integrado de Planejamento. 

Vale destacar, ainda, a participação da área de soluções educacionais da Escola Corporativa no MoodleMoot Brasil 2022, evento destinado a usuários, desenvolvedores e administradores do Moodle, sistema de código aberto para a criação de cursos online.  O Moodle é um dos softwares livres mais utilizados no mundo. Foi a primeira vez que a Escola Corporativa participou do evento. Fomos lá apresentar o Percurso de aprendizagem Comunicação. 

E até o final do ano, pretendemos lançar o e-book de soluções educacionais, um guia onde será possível conhecer melhor as estratégias e metodologias adotadas pelos Programas de Desenvolvimento da Escola Corporativa.